Sunday, September 21, 2008

Entrevista com Alan - Parte 2

Parte final da entrevista com Alan Tygel.

Z: Qual o papel da música na sua vida? É só uma forma de lazer?

AT: É uma forma de lazer, mas eu tiraria o 'só', pois não é secundário. Minha relação com a música é muito forte, por causa do meu pai, músico, minha mãe, designer que faz muitas capas de disco. Escolhi a engenharia porque não achei que tinha potencial suficiente pra viver de música, mas ela está sempre ao meu lado. Até porque acho que nós que estudamos engenharia, seja na graduação, mestrado ou doutorado, temos que ter alguma atividade paralela séria, do contrário ficaríamos todos loucos (ou melhor: mais loucos). Além disso, o tema que escolhi estudar não me permite ficar longe da música nem dentro da engenharia. Isto é muito engraçado: dentre as pessoas que gostam de música, existem duas classes: as que conseguiram virar músicos, e as que não conseguiram, e foram virar técnicos de som, roadies, engenheiros de áudio, técnicos de gravação, mixagem, masterização, etc... Gosto de dizer que somos todos músicos frustrados... É uma brincadeira com fundo verdade.

Mas já houve uma época em que eu estive prestes a abandonar tudo pela música. O Noção Rasta estava bombando em São Paulo, fazíamos shows imensos, para milhares pessoas, nosso CD vendia bem (mais de duas mil cópias), tocávamos a beça no rádio, e chegamos a cogitar a hipótese de nos mudarmos pra lá, pra poder fazer mais shows. O problema é que o empresário não era uma pessoa tão, digamos, 'do bem', e resolvemos ficar por aqui mesmo. Depois houve a separação da banda e hoje estamos com o Groovelementar, fazendo um show aqui, outro acolá, gravando umas músicas, e veremos no que vai dar. A cena mais emblemática daquela época pra mim foi quando eu fiquei estudando Sistemas Lineares II dentro de um camarim, em Jundiaí, SP. Foi o melhor camarim que já tivemos, com direito a barril de chopp e tudo mais, e eu pensando na prova de SLII... heheh.

Além da banda, fiz esse ano duas trilhas sonoras para curtas-metragens, e gostei muito da experiência. E por incrível que pareça, tem bastante engenharia envolvida, no hora de planejar a música do filme todo, planejar as entradas, as etapas da produção. É um trabalho técnico/criativo muito legal, apesar de consumir muita energia. Mas é recompensante ver o filme depois numa tela grande com som alto!


Z: O que doeu mais, o tri-rebaixamento ou o vice na Libertadores?


AT: Boa pergunta... Na verdade, a comparação com a perda da final da libertadores se daria mais com o primeiro rebaixamento, em 1996. Nos outros, eu já estava me lixando. Na verdade, existe uma grande diferença entre os dois acontecimentos.

Em 1996, tínhamos um time horrível, com uma diretoria péssima, mas tudo isso foi mascarado pela boa campanha do ano anterior, quando fomos campeões estaduais, vencendo 3 Fla-Flus e empatando um no ano do centenário rubro-negro. Além disso, ficamos em 4o no Brasileiro. Naquela época, o sentimento foi de raiva com o clube, e com o time. Chorei bastante, na segunda-feira seguinte não fui à escola, minha mãe ficou muito preocupada. Mas o que prevaleceu foi a raiva mesmo.

Já este ano, tivemos um belíssimo time, com partidas históricas, vitórias épicas, futebol bonito de se ver, com classe, categoria. Jamais de esquecerei da atuação diante do Arsenal, foi o jogo mais bonito que eu já ví. E a emoção da vitória contra o São Paulo, inesquecível. Houve planejamento, que veio desde o ano passado, com o mesmo técnico, a mesma base, boas contratações. Foi tudo feito corretamente. Desta vez, eu chorei apenas antes da final. Passaram um vídeo muito emocionante no telão do Maracanã, comparando os ídolos antigos aos atuais, todo mundo que estava ao meu redor chorou. Quando o jogo terminou, o sentimento era de tristeza, mas sabendo que tudo havia sido feito da forma correta. Não ganhamos porque... difícil achar uma explicação. Mas não faltou raça, não faltou coragem, não houve clima de já ganhou. No entanto a tristeza foi muito grande mesmo, passei mais de uma semana pensando só nisso, muito triste, e até hoje aqueles penaltis ainda aparecem de vez em quando na minha cabeça. Ficou a sensação de que poderia ter sido, mas não foi, e não sabemos muito bem porque.

Resumindo: os dois eventos doeram bastante, mas o primeiro foi vergonhoso, e no segundo pudemos sair de cabeça erguida, com muito orgulho de ser tricolor.


Z: Recentemente você fez uma grande viagem de ônibus, por vários países vizinhos ao Brasil. Quais as impressões mais marcantes dessa viagem?


AT: Foi uma viagem sensacional, que recomendo a todos. Gastando muito pouco dinheiro pude conhecer muitos lugares lindos, que estão aqui do lado. Pude comprovar a diversidade do nosso continente, desde a européia Buenos Aires até a pobre e subdesenvolvida Bolívia. É um tipo de viagem onde se aprende muito, as novidades aparecem a todo momento. Por conta disso, a melhor maneira de fazê-la é de ônibus, para ver a paisagens e suas incríveis mudanças. Montanhas coloridas, planícies a perder de vista, montanhas nevadas, desertos de areia, desertos de sal, lagos a 4200m de altitude. Tudo isso numa distância bem pequena se comparada à grandeza e a diversidade das paisagens.

Faço somente um alerta: Esta viagem não serve pra descansar! Tanto o desgaste físico, pelas distâncias percorridas, quanto o mental, pela quantidade de informação nova exigem uns diazinhos de repouso na volta.


Z: Qual a importância dos colegas e amigos na sua vida?


AT: Sou muito feliz pelos amigos que tenho. E gosto muito do fato de ter grupos de amigos com estilos completamente diferentes: os amigos da UFRJ, de Santa Teresa, da época que morava em Copacabana, os amigos do reggae, da Escola Suíça... E é muito engraçado, pois os meus amigos da banda me vêem com 'nerd', os da faculdade como regueiro... Outra coisa que me deixa muito feliz é quando meus amigos de grupos diferentes ficam amigos entre si. Isso acontece bastante, inclusive há pouco tempo um grande amigo da faculdade começou a namorar uma grande amiga do colégio! Adorei isso, principalmente pois são duas pessoas que quem gosto muito.

Eu procuro manter o máximo de contato com todos os meus amigos, mas com o ritmo do mestrado é muito difícil, já que é muito complicado sair durante a semana, e tenho passado muitos fins de semana trabalhando. Mas eu me esforço muito pra não perder contato, pois acho que a amizade é a coisa mais importante que se pode conquistar na vida.

1 comment:

PC Filho said...

Fico cada vez mais feliz por ter sido abençoado com a amizade desse cara!

A resposta sobre o Fluminense foi perfeita. Mostrou muito bem o sentimento que temos de cada época (96/97/98 - vergonha; 2008 - orgulho), e ainda cutucou o Flamengo (95 "sem-ter-nada", com 3 derrotas pro Flu).

Saudações Tricolores!
PC (amigo da UFRJ e do Maraca! hehehe)