Monday, September 15, 2008

Entrevista com Alan



Alan Tygel é o grande ícone da atual geração do LPS. Seus lados zen e artístico são sempre alvo de imitações e paródias. Alan é belga, judeu, tem uma banda de reggae, é morador de Santa Tereza, é tricolor quase fanático e se diz sushiman. Sua barba e seu bordão "pô, bixo" são suas marcas registradas. Segue a primeira parte da entrevista feita, por Jesus e por mim, com Alan.

Z: Você é um cara de família judia, mas com experiência num meio musical com influência rastafari e convívio num ambiente de pesquisa em que a presença de Deus é deixada de lado. Qual sua visão religiosa e de Deus?
AT:
Eu encaro o judaismo muito mais pelo lado cultural do que religioso. Creio ser importante preservar esta cultura de mais 5000 anos que durante a História resistiu a todo o tipo de perseguição e tentativa de destruição. Meu avô é um sobrevivente do Holocausto, sofreu muito e teve 7 irmãs assassinadas simplesmente por ser judeu, e por sua coragem e persistência é que estou aqui hoje. Portanto acho que é meu dever preservar a cultura judaica.

Contudo, acho que posso fazer isso sem me envolver muito na parte religiosa. A cultura judaica é muito rica em seu idioma, festas, comidas, literatura, sabedoria, e a religião é, na minha opinião, apenas uma parte disso, com a qual não me identifico muito.
A religião rastafári tem, coincidentemente uma grande interseção com a religião judaica. Ambas têm como símbolo a estrela de David, seguem o velho testamento... Mas no Brasil (e no mundo) existem poucos seguidores desta religião, que prega hábitos alimentares bem rígidos e o consumo de cannabis, primeira planta que teria crescido sobre o túmulo do rei Salomão.
Minha orientação no final das contas é mais alinhada mesmo com a do nosso ambiente de pesquisa.

J:
Mermão! O que você pensa da legalização (ou discriminalização) das drogas?
AT: Apesar de não usar drogas consideradas ilícitas (ao contrário do que muitos pensam, hehe), convivo com usuários de maconha. O que posso perceber é que: 1) O uso prolongado/excessivo causa danos à saúde sim; e 2) Os danos tanto do uso casual quanto do uso excessivo são muito menores do que os causados pelo álcool. Realmente não faz sentido algum um ser proibido e o outro permitido.

Drogas mais pesadas certamente devem ser proibidas. Mas em relação especificamente à maconha não vejo motivo para a proibição. Além do uso como droga, a planta da cannabis tem uma fibra que pode ser usada para fabricação de tecidos, como já foi no passado, e papel, sendo cerca de 5 vezes mais eficiente do que o eucalipto, entre vários outros usos.
Outro ponto interessante de notar é que a proibição pode muitas vezes gerar mais danos do benefícios à sociedade. Por exemplo, o sistema pública de saúdo gasta mais dinheiro com danos gerados por consumo ou por tráfico? A discussão é longa, com muitos argumentos para ambas as partes, e é muito enriquecedora desde que feita livre de preconceitos, do tipo maconheiros versus caretas.

Z: Quais seus maiores sonhos para o futuro? Um dia veremos o Alan sem barba, de terno e gravata, totalmente capitalista?
AT: Hahahaha... Vamos por partes.
i) Em relação aos sonhos, viver num país e num mundo mais justos socialmente, e mais equilibrados ambientalmente. Sem estes dois fatores, que são altamente correlacionados, creio que continuaremos caminhando rumo ao colapso total. Estamos vendo amostras grátis deste colapso na violência das grandes cidades, como a nossa, e nos terremotos e tsunamis pelo mundo.
ii) Quanto à barba, receio que não. A última vez que tirei, há uns 3 anos, minha namorada quase me chutou... (risos) Não quero passar por isso de novo! Adoraria passar por alguma situação onde me mandassem tirar a barba (um emprego, coisa do tipo). Ia ser ótimo mandar todos que têm preconceitos com barba, cabelo, roupas (isso existe sim, eu garanto!) para aquele lugar. Certa vez uma tia minha me falou: "Alan, meu querido, você deveria tirar esta barba! Com ela, você fica parecendo um... " - pensou, pensou, pensou na coisa mais ofensiva possível e disse: - "Um poeta!" Eu caí na risada... Meu avô paterno era poeta, Simon Tygel.
iii) Sobre o terno e gravata, posso usar desde a situação exija (e não esteja calor). Esta foi uma grande discussão na época do planjemaneto da nossa festa de formatura. Havia a ala conservadora que queria obrigar todos a irem de terno, em nome da "tradição". Eu briguei muito para que cada um fosse com se sentisse melhor, afinal era um momento nosso. (Além do fato de que o terno nestas festas serve somente pra entrar e sair). No final, decidiu-se mesmo pelo terno optativo, mas a maioria acabou indo de terno e a festa foi maravilhosa.

J:
Mermão! Qual sua posição em relação ao direito autoral e pirataria?
AT: Acho que o autor deve receber pela sua obra. Isso é primordial, para que ele continue produzindo. Talvez o que esteja faltando no caso da música seja justamente o mecanismo ideal pra isso. Existem várias tentativas, e uma das que mais deu certo na minha opinião foi a Apple Store, que conseguiu vender as músicas a um preço camarada. Tirando as questões do DRM, que sou radicalmente contra, este modelo não acaba com a troca de música via internet e consegue remunerar o autor. O problema é que aqui no Brasil a lei de direitos autorais é um pouco diferente e dificulta este tipo de modelo. Existe o site iMusica que faz isso, mas o preço ainda é muito alto e revela algumas distorções. Acabo de ver uma faixa da Brithney Spears custa R$2,00, enquanto uma faixa do Chimarruts, banda de reggae desconhecida do público geral, custa $2,50. Devia ser ao contrário, não?
A troca de músicas gratuitamente favorece os músicos novos, e prejudica os estabelecidos. Uns se beneficiam da divulgação a custo mínimo (comparado a jabas de rádios), e os outros deixam de vender seus produtos quando eles são obtido gratuitamente na Web. Mas não se pode parar a Internet. A troca de músicas deveria ser saudável, tanto para o músico quanto para o ouvinte. Tem que haver um equilíbrio nesta história. A Internet tem um grande poder de alavancar carreiras, vide vários casos no MySpace. Eu tenho uma experiência pessoal com isso, quando a minha antiga banda começou a aparecer bastante por conta de grande divulgação na rede. Mas isso é assunto para a próxima pergunta.

6 comments:

Anonymous said...

muito bom!!

PC Filho said...

Muito bom!!! Sou cada vez mais fã desse cara!

Aproveito para pedir que, na segunda parte, o Alan fale um pouco de sua paixão pelo Fluminense! :)

Marcello said...

Ótima a entrevista. Como ele diz que convive com "usuários" de maconha, será ele é um fumante passivo? :)

Clara said...

Parabenizo a equipe do blog pela excelente entrevista com Alan Tygel, que demonstrou eloquência e foi muito pertinente em suas respostas. (E ainda é um namorado maravilhoso!)Bjs!

Unknown said...

Alan tá famoso!! tá até dando entrevista em site! hahahahah! valeu, edgar!
beijos!

juacchar said...

Grande Alan, adorei sua entrevista! Agora, que eu me lembre você foi de terno na festa de formatura né? rsrsrs Beijão e sucesso!